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Reintegração de doentes mentais pela Economia Solidária

POR NATÁCIA GUIMARÃES*

guimaraesnatt@gmail.com

 

 

A implementação da Economia Solidária como uma das principais soluções para (re) integrar indivíduos que apresentam algum problema mental na sociedade tem gerado inúmeras discussões sobre a implementação de atividades com um retorno econômico. De acordo com o Conselho de Nacional de Economia Solidária, essa atividade é uma  alternativa que gera trabalho e renda pela via do trabalho, combinada aos princípios de autogestão, cooperação e solidariedade na realização de atividades de produção de bens e de serviços, distribuição, consumo e finanças,

Uma das experiencias realizadas em Salvador, mais precisamente na UFBA, é pelo Núcleo GERAR, sediado no Instituto de Saúde Coletiva da universidade. Para a professora Mônica Nunes, “o núcleo busca promover a saúde e a inclusão social de pessoas com sofrimento psíquico através de empreendimentos solidários. Dessa forma, a escolha pela economia solidária é uma  maneira de fugir da lógica capitalista”, afirma..

No caso dos pacientes dos centro de reabilitação, iniciativas como estas se tornam ainda mais importantes, considerando que rotina de remédios pode interferir na produção e na socialização, o que interfere diretamente na venda dos produtos que precisam de um tempo e estrutura diferente para serem comercializados, destoando da lógica de mercado na qual é necessário ter produtos iguais, em datas e períodos determinados.

O GERAR, por meio de empreendimentos solidários no campo da Saúde Mental, realiza oficinas abertas de gravuras, gastronomia, além de um grupo de teatro, Os Incêndios, formados por pessoas com alguma deficiência mental. Na oportunidade, a professora mostrar vídeos dos diversos trabalhos realizados pelo núcleo.

O psicólogo Ricardo Melo falou  do trabalho que realiza no hospital Irmã Dulce, em Salvador, com os internos, através do Centro de Atendimento e Acolhimento de Alcoolistas (CATA), um dos principais centro de internação gratuitos do estado da Bahia. O CATA possui várias atividades lúdicas com os paciente, entre elas, um que produz obras com mosaicos, que também produz e comercializa quadros e cadeiras. “A venda acontecia somente em feiras internas, mas tem recebido convites para feiras externas e gostado do resultado. Esse ano eles participaram da primeira feira em um ambiente externo ao hospital.

Com relação à participação do grupo no Mercado Iaô, o psicólogo reforça: “Todos os internos foram vender suas artes na feira, a direção do local falou que nos tínhamos muitos vendedores, isso iria inibir possíveis consumidores, mas não poderia negar essa oportunidade deles saírem do ambiente do hospital.”. Apesar do sucesso nas vendas ainda existe, de acordo com ele, dificuldade de colocar o preço nas obras e comercializar, por isso relata a importância e necessidade de se criar uma rede de produtores. “Só de vender e ter uma renda dividida por todos já é um grande incentivo aos novos artesoes”, finaliza.

Hans Petter. representante do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Capes) Gregório de Matos, no Pelourinho,  apresentou o trabalho que faz com os internos, com oficinas de artes e organização dos produtos para uma possível comercialização. Os produtos, no entanto, encontram entraves para a venda devido a própria déficit estrutural das instituições. “Há necessidade de modernizar, as ferramentas que temos são precárias” afirma Hans. Ele também diz que o grupo precisa de um site para vender seus produtos, mas não possui nem computadores.

Uma das necessidades pautadas por todos foi a necessidade de criar uma rede para unir todos que trabalham com economia solidárias a partir de associação de pessoas com deficiência mental. Os produtos são de qualidade e necessitam de escoamento, não só como ato da venda, mas como forma de valorizar o trabalho desses indivíduos. O comércio justo e as forma de cooperativas servem, também, para uma união inexistente no modo de mercado capitalista. Existe uma solidariedade que os possibilita uma inserção mais “tranquila”, cada individuo produz no seu tempo, vende no seu tempo .

De acordo com o relatório Saúde Mental e Economia Solidária: Inclusão Social pelo Trabalho, publicado em 2005, pelo Ministério da Saúde, “É preciso construir condições objetivas, por meio de políticas públicas e da participação da sociedade, para que tais experiências se consolidem, ampliem, superem e possam atender com mais efetividade às necessidades dos usuários, propiciando uma cooperação solidária de toda a sociedade com o processo de superação do manicômios.

A afirmação acima descrita ilustra ainda a luta desses grupos que ainda buscam novas concepções sociais, mostrando que estes indivíduos são capazes de ganhar espaço e notoriedade no cenário social, e são capazes de viver de forma digna e não recluso em espaços hospitalares, fugindo, dessa forma, dos esteriótipos que marginalizam.

*Estudante do Curso de Produção em Comunicação e Cultura da Faculdade de Comunicação da UFBA e estagiária da Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura

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